Não foi uma nem duas. Pois foram mais
que três vezes que situações se viveram de semelhante modo. De maneira nenhuma
existe a hipótese de alguns dos intervenientes perceberem que estão a intervir
e que assim se encontram virtuosamente a influenciar tudo e todos aqueles que,
por ínfimo contacto que seja, tenham interagido com o próprio.
Pois, não foram nem três nem duas, não
foram não senhor. Mas para animar a festa, vamos fazer uma festa para festejar
os festejos que, se fosse naquela altura, conta-se que eram bem festivos.
Ouve-se dizer até que o acto hediondo em si, desde onde começava até onde
acabava, parecia e fazia lembrar uns batuques muito fanfarreiros até.
Desde sempre que Fátima, filha do
curandeiro pardo branco, soube que Viviane, sua filha e da semente do senhor,
era especial, não pelos seus exemplares olhos empanados, mas pelo seu feitio e
pela sua vinculada forma, sendo franco, fazia lembrar um extraterrestre. Um ser
de outro mundo ou talvez qualquer coisa que de cá não seja nativa. Rodolfo,
capataz, franziu as suas avantajadas e félfias sobrancelhas quando se deparou,
pois, com o brutal espectáculo. Com um pensamento obsoleto, de uma forma livre
e ardente, proferiu tamanhas palavras falsamente proibidas que iriam ecoar por
milénios sob as bocas de mestres oradores, que já na época eram bem apreciados
por seus feitos.
Cinco minutos antes da hora nobremente
marcada, eis que chega Amílcar a casa. De imediato Alberta, a governanta
movida a pronto, avisa com um tom ocre os restantes presentes para se
esconderem. Ao ouvir-se o famoso noc-noc habitual, Alberta desloca-se
aparentando um gesto sofrido e moroso e, em modo tractor de fazenda, arrasta no
seu encalço um valente aspirador-purificador de ar, tentando limpar ainda a
feltifa persa enquanto abre com o seu braço mais forte a dita porta ao senhor Amílcar Alho que já está á espera á chuva á mais de cinco frases atrás. Cristóvão, Alfredo e Zé acompanham António na sua chegada com Amílcar.
Assim sendo e dizendo ainda o que não
disse, julgo eu terem sido mais de cinco até e não menos que dez mas com esta a
ditar ser a última.
Numa casa na colina a poente, vazia de coisas que a encheram em tempos já
esquecidos, Clemente acaba as suas tarefas domésticas de uma vez só e, com
gentileza, balança-se em bicos dos pés sob o intemporal banco de madeira de
oliveira, tentando abstrair-se do laço de corda que abraçava firmemente o seu
pescoço, causando agora um desconforto crescente. Com um tom azulado de pele e
já de pau feito, Clemente ganha a batalha e rende-se. Vai-se assim, em busca da
sua crença até onde a encontre. Para trás deixa o defunto seus velhos, cansados
e flácidos despojos ali pendurados de forma prescrita e findada.
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