DO NADA, SOBRE COISA NENHUMA
No início o nada preenchia tudo. Tudo se resumia a escuridão e vazio. No entanto, algo aconteceu no meio daquilo tudo, que não era nada.
Acendeu-se uma luz, um pontinho no meio da vastidão do impossível irradiou toda a sua clareza, ofuscando todo o nada que havia á sua volta. Implodiu sobre si mesma e em menos de um micro segundo, BUMM, expandiu-se, espalhando o tudo em todas as direcções.
Surgiram então as primeiras estrelas, seguidas pelos planetas. O caos aparente de todos os corpos celestes transformou-se na organização complexa das galáxias. Era agora um sítio cheio de coisas estranhas, coisas de diversos estados, tamanhos e feitios, era uma mistura de complexidade, energia, simplicidade e cor.
Um pouco mais tarde destacou-se um pequeno planeta azul. Numa galáxia já distante da sua origem, era um planeta inserido num sistema bi-solar conjuntamente com outros oito planetas que se avizinhavam, interagindo segundo regras sensíveis e frágeis.
Um pouco mais tarde destacou-se um pequeno planeta azul. Numa galáxia já distante da sua origem, era um planeta inserido num sistema bi-solar conjuntamente com outros oito planetas que se avizinhavam, interagindo segundo regras sensíveis e frágeis.
O Acontecimento fez-se acontecer, eclodiu assim a Vida na sua forma mais básica de o ser, no pequeno grande planeta azul. Acompanhando a evolução de todas as coisas em seu redor, a Vida não fugiu á regra e evoluiu também, perpetuando no seu dorso algumas das criaturas mais fantásticas que até então aí tinham habitado. Finalmente o presente encaixa e ganha forma, eis que chega o Homem, o Homo Sapiens Sapiens. Começou assim uma nova Era na história, a Era da humanidade, a Era da consciência, a Era do Ser, pois o termo Nós era agora uma realidade, e veio para ficar.
Nós, seres em construção, chegámos como Reis e donos do mundo, com a nossa singular ignorância espantá-mo-nos quando soubemos que a Terra não era quadrada entristece-mo-nos quando descobrimos que não éramos o centro do Universo. Ligá-mo-nos a deuses e criámos inúmeras religiões, fomos a todas as partes do globo, esquecemos o respeito pela Natureza menosprezando o seu puder e a sua importância e, por fim, cometemos atrocidades bárbaras contra a própria Humanidade. Assim como um Vírus, somos seres capazes de ser não só a doença mas também a cura, tornámo-nos especiais ao ponto de não sabermos sequer que o somos…
O século XX foi marcante, a tecnologia evoluiu, sem dúvida, de mãos dadas com a crueldade crescente da Civilização, matámos como nunca antes e amámos como ninguém, festejámos com o nosso orgulho e ficámos embriagados com a nossa ganância.
Onze anos após a queda da ditadura em Portugal, feito conhecido historicamente como “a revolução dos cravos”, nasceu, a vinte e três de Outubro, aquilo que significava para alguns a desgraça e para outros a esperança. Para mim, gosto de pensar que era apenas Eu. Foi o tomar do meu primeiro fôlego, começa agora a minha pequena Epopeia.
O acto de nascer é, por si só, um sintoma de intenção.
Nascer é como jogar na lutaria e hoje vivo com o pensamento de que tudo na Vida é bom, tudo o que daí vier não passará apenas de um bónus, pois não se compara ao premio que já ganhei. São tantas as vezes que humildemente me sinto, de certa forma, agradecido de ter nascido, como as vezes que me arrependo de o fazer, pois vivemos num mundo maravilhoso mas verdadeiramente repugnante e o que mais me assusta é que faço parte dele.
Até aos meus três anos de Vida, o meu pequeno cérebro lutou para perceber o que era aquilo que me rodeava, recorrendo a estímulos e sensações, fui associando inconscientemente e aprendendo determinados factores, os quais gravei no cofre da memória primordial, a qual hoje não tenho a chave para o acesso consciente; é nesse sítio que guardo todos os saberes primário, mas de nada menos importantes. Esses saberes essenciais são, como lhe gosto de chamar, o Rés-Do-Chão do meu Edifício-Mental, e foi, inconscientemente, através dessa base que defini que tipo de edifício iria construir.
Seja de que forma for, é sempre um percurso difícil alcançar um lugar de destaque e, uma vez acontecendo, a derradeira sensação de destaque e distinção nunca é verdadeiramente real nem consciente.
Numa Terra de seu nome, Casal Dos Claros, vivi até aos cinco anos. Entre os três e os quatro anos a Natureza fez das suas e reclamou um bocado do Nós, falecera o meu pai, Albino Inácio. Aos vinte e três anos, saiu de casa para ir trabalhar na madrugada de dezoito de Junho de mil novecentos e oitenta e nove para enfrentar, o que aparentava ser, mais um dia de trabalho árduo. Pegou na sua mota e cerca de três quilómetros após se fazer á estrada, perdeu o controlo e despistou-se numa curva, embatendo violentamente numa parede de uma casa, partindo de imediato o pescoço… recordo com tristeza e pesar, esse confuso momento da minha Vida.
A Vida não nos dá nada sem voltar a tirar, tudo parte de uma base, o da Partilha.
Lina Ferreira, vinte e dois anos, mãe de dois filhos.. Viúva.. Chocada, Devastada, Horrorizada, Ferida, Desamparada, Angustiada, Desgovernada, Revoltada.. Triste.. Desolada… Intoxicada com um sabor amargo na boca.. Gritava em silêncio, de tão hedionda que era a Dor.
Para uns o Mundo parecera que acabara, para outros o Mundo estava agora a começar.
CONTINUA…
Numa próxima Etapa…
Sem comentários:
Enviar um comentário